O Brasil ostenta com orgulho o título de um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Somos líderes na exportação de carne bovina, suína e de frango, além de figurarmos entre os maiores produtores de grãos do mundo. No entanto, por trás dessa potência agropecuária, esconde-se um ponto que ano a ano vem sendo fragilizado: o sistema de fiscalização zoossanitária.
Imagine, por um instante, um cenário em que os auditores da Receita Federal abandonem seus postos. O impacto na arrecadação tributária seria imediato e devastador. Mas será que damos a mesma importância aos fiscais agropecuários do Ministério da Agricultura e das Secretarias Estaduais de Defesa Sanitária? Afinal, são eles os guardiões silenciosos da sanidade animal e vegetal — pilares invisíveis, mas essenciais, que sustentam a reputação e a segurança dos nossos produtos no mercado interno e internacional.
Apesar da relevância, o Brasil convive com um sistema de fiscalização deficitário. Os salários pouco atrativos e a carência de recursos têm levado profissionais experientes a abandonarem a carreira ou se aposentarem precocemente. A evasão crescente desses especialistas enfraquece a capacidade do país de prevenir, identificar e conter surtos sanitários, colocando em risco tanto a saúde pública quanto a economia do agronegócio.
A situação é ainda mais preocupante nos estados, onde a estrutura das secretarias responsáveis pela defesa sanitária, muitas vezes, encontra-se sucateada e sobrecarregada. Sem investimento em pessoal, equipamentos e tecnologia, o sistema se torna vulnerável e ineficiente. Em um setor cada vez mais exigente e globalizado, a miopia estratégica para o setor pode representar a perda de mercados estratégicos e a deterioração da imagem do país como fornecedor confiável de alimentos para o mundo.
É urgente que o Brasil adote um plano de reestruturação para a fiscalização agropecuária. Isso inclui a recomposição e valorização do quadro de fiscais, com remuneração compatível com a responsabilidade da função, além de investimentos em capacitação contínua e em tecnologias modernas de monitoramento. O objetivo deve ser claro: fortalecer a vigilância, antecipar ameaças e garantir que o Brasil continue a atender aos mais altos padrões sanitários internacionais.
Não se trata apenas de proteger o status sanitário de nossas exportações. Trata-se de defender a saúde do consumidor, preservar o patrimônio agropecuário e consolidar nossa posição no cenário global como um fornecedor confiável de alimentos. O Brasil que deseja continuar sendo o “celeiro do mundo” precisa proteger esse celeiro com seriedade, estratégia e responsabilidade.
Negligenciar a fiscalização agropecuária é comprometer a base sobre a qual se ergue nosso maior orgulho econômico. É hora voltar a tratar a defesa sanitária animal e vegetal como prioridade de Estado — não com postagens de “modinha” nas redes sociais do MAPA, mas com políticas públicas robustas, com planejamento estratégico que passa por valorização profissional e visão de futuro.