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Nova plataforma pode tornar o estado mais uma opção para o escoamento dos grãos do Centro-Oeste brasileiro | Foto: Divulgação
Entrevistas

Novos terminais privados podem gerar R$ 3 bi de arrecadação para o Amapá

Da Redação

Em entrevista esclarecedora, o diretor executivo da Plataforma Logística do Amapá (PLA), prático
Ricardo Falcão, faz uma previsão de cinco anos para operação dos dois terminais privados da
empresa, que serão construídos no distrito de Anauerapucu, após a foz do Rio Matapi. Em sua
projeção, os investimentos vão gerar R$ 3 bilhões/ano em arrecadação para o estado, trazendo
mais qualidade de vida para a população. A PLA acaba de ganhar o Prêmio Antaq 2021, da
Agência Nacional de Transportes Aquaviários, juntamente com a Praticagem do Amapá e o
Tanque de Provas Numérico da Universidade de São Paulo (TPN-USP). As simulações de
manobras de navios realizadas pelo grupo no laboratório da USP levaram ao aumento do porte
das embarcações no estado, tornando o Amapá mais uma opção para o escoamento dos grãos do
Centro-Oeste brasileiro. Leia a óintegra a seguir.

Portal do Agro – Na semana passada, a Plataforma Logística do Amapá ganhou um prêmio da Antaq pela
inovação em simulações que aceleraram o aumento do porte dos navios no estado. Qual a
previsão de construção dos novos terminais?
Ricardo Falcão – A outorga de autorização do Terminal de Granéis Líquidos do Amapá, o TGLA, já saiu
no Ministério da Infraestrutura, que é o poder concedente. Estamos agora na expectativa da
assinatura do contrato de adesão do Terminal de Granéis Sólidos do Amapá, o TGA, que já tem o
aval da Antaq. Depois disso, vem a fase de licenciamento ambiental. Nossa previsão é que
estejamos operando em até cinco anos, beneficiando a população do nosso estado diretamente.

Portal – De que forma os amapaenses serão beneficiados pela construção e exploração dos novos
terminais privados?
Falcão – Estamos falando de investimentos de quase R$ 1 bilhão. Além dos empregos gerados
durante a obra, os terminais têm o potencial de atrair outras indústrias, como as de produção de
ração, a partir da soja, e etanol, do milho. Não podemos esquecer também que mais navios
carregando no nosso estado aumentam a arrecadação de impostos, que podem ser revertidos em
desenvolvimento local pelo poder público. Um terminal portuário gera cerca de 15 mil postos de
trabalho diretos e indiretos e uma embarcação atracada, R$ 10 milhões em tributos, pois estamos
falando de toneladas de grãos por navio. No caso dos nossos dois terminais, a projeção é de
receber 300 navios/ano. Ou seja, são R$ 3 bilhões a mais de arrecadação para os cofres
estaduais.

Portal – Qual a perspectiva de aumento da exportação do agronegócio pelos portos amazônicos?
Falcão – Excelente. O escoamento da produção do agro pelos portos do Arco Norte cresceu
487,5% em 11 anos. Todos os dias ao menos um navio parte dos terminais de Itacoatiara (AM) e
Santarém (PA). Anualmente, estamos falando de aproximadamente 1.300 embarcações que a
praticagem conduz pelos rios da Amazônia e quase metade transporta produtos agrícolas do
Centro-Oeste que chegam pelos rios Madeira e Tapajós. Quando comecei a trabalhar aqui como
prático, há 20 anos, a situação era muito diferente. Hoje, temos necessidade de mais uns 20
terminais novos operando.

Portal – Como as simulações realizadas na USP contribuem para melhoria desse cenário?
Falcão – Nós inovamos na forma de fazer as simulações de manobras de navio. Os rios na
Amazônia são muito dinâmicos, com bancos de areia se movimentando o tempo todo sob as
águas. Por isso, contamos com o apoio da Praticagem do Amapá e da Companhia Docas de
Santana, que forneceram levantamentos hidrográficos mais atualizados do que as cartas náuticas.
Além disso, nós da PLA contratamos uma análise detalhada das correntes no canal de Santana,
cujas medições eram de 1981. Outra inovação foi que, pela primeira vez, reunimos nas simulações
representantes da praticagem, das autoridades Marítima e Portuária, do Ministério Público e dos
poderes Executivo e Legislativo. Em menos de um mês, a Marinha homologou embarcações com
quase 20 mil toneladas a mais de capacidade. Também descobrimos que o Porto de Santana
poderia operar do nascer ao pôr do sol, sem novos investimentos em infraestrutura. Isso tudo
representa lucro na veia para o agro, mais competitividade para o porto e desenvolvimento para o
Amapá.

Ricardo Falcão, presidente do Conselho Nacional de Praticagem (CONAPRA) | Foto: Divulgação

Portal – Como está a questão do gargalo na barra norte do Rio Amazonas?
Falcão – Ainda é um limitador do calado, digo do quanto as embarcações podem carregar, mas
que vem sendo vencido com o nosso estudo das marés. Trata-se de um trecho raso e lamoso na
foz do rio, que delimita o calado de todos os navios na Bacia Amazônica. Em 2017, a praticagem
fez um estudo técnico e instalou um marégrafo no Canal Grande do Curuá, cujos dados são
compartilhados com a Marinha e a UFRJ, nossa parceira na análise das marés. Para aumentar a
precisão das informações, vamos instalar agora três boias meteoceanográficas na barra norte.
Além disso, temos a intenção de adotar um sistema de calado dinâmico, que calcula o quanto os
navios podem transportar sem risco de tocar o fundo. Com isso, esperamos passar dos 11,90
metros de calado atuais (em fase de testes) para 12,50 metros, um ganho de dez mil toneladas por
navio Panamax que beneficiará toda a hinterlândia alcançada pelo Rio Amazonas. Infelizmente,
tem gente gastando recursos à toa para estudar o mesmo problema e que se apropria o tempo
todo do nosso projeto. Inclusive, vai além, dizendo que é possível navegar tangenciando a lama,
algo extremamente prejudicial à manobrabilidade do navio.

Portal – Quem estaria fazendo isso?
Falcão – O próprio diretor-presidente da Associação de Terminais Portuários Privados, a ATP,
que faz questão de se apresentar o tempo todo como almirante Murillo, mesmo tendo sido
transferido há anos para a reserva da Marinha do Brasil, o que é um claro conflito, pois ele não fala
mais pela Autoridade Marítima. É a mesma pessoa que critica os preços da praticagem, quando,
na verdade, os terminais que ele representa não pagam pelo serviço, e sim os donos das
embarcações. Logo, só pode estar à frente de interesses maiores e alheios à segurança da
navegação que outrora serviu.

Portal – A PLA, então, não pretende se associar à ATP?
Falcão – Nessa realidade de ética e conduta, definitivamente não. Nossos investidores estão em
linha com os princípios ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG).

Portal – Por fim, além da barra norte, que outros investimentos a praticagem faz na Amazônia?
Falcão – Foram muitos investimentos nos últimos 20 anos, começando pela sondagem das
profundidades dos rios. Como eu falei, as cartas náuticas oficiais estão sempre desatualizadas
pela movimentação intensa dos bancos de areia. Iniciamos com uma sonda monofeixe e
atualmente fazemos o levantamento com uma multifeixe, possibilitando aos práticos navegar com
cartas náuticas próprias renovadas constantemente. De posse desses dados batimétricos, a
praticagem também passou, a partir de 2010, a estudar rotas alternativas a caminhos que
limitavam a navegação. Esses investimentos em batimetria nos permitiram navegar no Rio
Amazonas, com calado máximo, durante os 365 dias do ano. A nossa experiência contribuiu ainda
para ultrapassar limites operacionais de curvas muito apertadas nos rios Jari e Trombetas, com
embarcações até 50% maiores. No Rio Trombetas, após o balizamento noturno, fizemos também
um esforço muito grande para ajustar a sinalização e treinar manobras à noite. O resultado do
nosso aporte, inteiramente privado, são navios mais carregados e que demoram menos tempo
para atracar e desatracar nos nossos portos.

 

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