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“Novo contexto da produção de grãos no Amapá”, por Juan Monteiro

 

Nos últimos três anos, a produção de grãos cresceu no estado do Amapá pela alta produtividade das áreas agricultadas alcançada através das tecnologias de ponta aplicadas nas fazendas, trazendo significativos efeitos no desenvolvimento de cadeia produtiva e impactos na economia da região.

O aumento da escala da produção de grãos ocorre com a organização de seus processos de maneira a maximizar os recursos disponíveis e reduzindo a extensão territorial agricultada, proporcionando um resultado elevado por área ocupada com a atividade agrícola.

Os produtores amapaenses investiram milhões de reais em equipamentos e tecnologias de última geração para obter mais grãos em uma menor área possível, para isso, introduzindo gradativamente o que se chama de agricultura de precisão, que consiste em um conjunto de ferramentas avançadas para a agricultura, a exemplo do uso de drones para a realização de georreferenciamento e aplicações e geoestatística e mecatrônica, do GNSS (Global Navegation Satelite System), do SIG (Sistema de Informações Geográficas), de instrumentos e de sensores para medidas ou detecção de parâmetros e alvos de interesse em agrossistema.

A aplicação da agricultura de precisão, além significar a maximização do potencial da área produtiva, também se torna essencial para a diminuição do uso de defensivos agrícolas e, consecutivamente, um menor impacto ao meio, além da economia ocasionada pela racionalização do uso de diversos insumos que passa a acontecer conforme a necessidade de cada pequena parte do solo.

Segundo dados do IBGE, em 2016 a produção de soja no estado foi de 42 mil toneladas, enquanto a de 2017, 52 mil toneladas, representando uma variação positiva de 24% de um ano para o outro, gerando cerca de R$ 60 milhões e o aumento de 1,2% do PIB amapaense. Isso se deve ao estado ter alcançado índices de produtividade similares aos das regiões agrícolas tradicionais do país, onde se colhe uma média de 50 sacas por hectare em uma área que variou, de acordo com dados da Aprosoja-AP, de 14.040 Ha para 19.000 Ha nos anos de 2016 e 2017, respectivamente.

Ao contrário dos grãos de milho, que são totalmente consumidos no mercado amapaense, a soja tem seu maior volume exportado para países da Europa, China e para o México. No entanto, das 52 mil toneladas produzidas em 2017, uma pequena parte começa a ser utilizada no estado na produção de ração para suínos e avicultura.

A verticalização da produção dos grãos de soja é a fase mais esperada pela economia do estado do Amapá, onde o grão colhido em estado in natura passa pelo processo de esmagamento, neutralizando as enzimas e dando origem a subprodutos como a glicerina, destinada à fabricação de cosméticos, o óleo de soja, para indústria de alimentos, e o farelo, destinado à fabricação de rações para a indústria de proteína animal.

A indústria de proteína animal é um dos pontos principais para a economia do estado Amapá, pois, possibilitaria a criação de animais para corte gerando horizontes ao comércio e à implantação de frigoríficos e indústrias de processamentos, resultando em um mercado de trabalho mais aquecido e a elevação do poder de compra pela mão-de-obra absorvida, e da atingida indiretamente como desdobramentos, a exemplo das empresas de diversos insumos como peças, máquinas, combustíveis, alimentos e outras.

De acordo com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, a cada 80 hectares de soja plantados, é gerado 01 emprego direto no campo que, por sua vez, possui uma proporcionalidade de 10 gerados indiretamente na cidade. Neste sentido, os 19 mil hectares plantados no Amapá geram 237,5 postos de trabalho no campo e 2.375 na cidade, totalizando uma projeção de 2.612,5 empregos diretos e indiretos.

Estudos desenvolvidos por instituições como a Unifap e a Aprosoja-AP, apontam que o estado possui a capacidade de plantar os grãos em uma área aproximada de 400 mil hectares, e isso geraria algo em torno de 5.000 em pregos no campo e 50.000 na cidade, perfazendo cerca de 55.000 vagas de trabalho, representando uma considerável ampliação do mercado consumidor capaz de fazer movimentar a economia em todos os seus setores, fazendo o Amapá subir a uma outra categoria de comércio.

Mas o aumento da escala da produção de grãos possui um grande obstáculo a ser superado que já perdura há três décadas, a regularização fundiária. Pois a mesma impede a criação de um ambiente juridicamente seguro para que o produtor possa fazer o investimento necessário à indústria de grãos, e a limitação de financiamentos voltados à produção devido ausência de titulação das terras, necessária para garantir os mesmos, o ocasionando lentidão ao desenvolvimento da região.

No entanto, aos 19 de dezembro de 2017, a Assembleia Legislativa do Amapá aprovou o Projeto de Lei 005, de autoria do Poder Executivo, que versa exatamente sobre as terras públicas e devolutas do Estado. Neste sentido fica pendente apenas a sua regulamentação para que o processo mais acelerado de legalização fundiária ocorra.

Para o Amapá alcançar avanços na qualidade de vida de seu povo, necessita promover o crescimento econômico e o desenvolvimento socioambiental através da aplicação uma política pública clara e bem definida para este setor, de maneira a equacionar as contradições existentes e encontrando um caminho equilibrado na construção de um estado melhor para todos.

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