Cleber Barbosa, da Redação
Implantado em 2014, como uma nova rota de exportação de grãos para o Brasil – num investimento de R$ 700 milhões na infraestrutura portuária e na logística – , o complexo portuário Miritituba-Barcarena se consolida e continua a produzir bons ‘insights’, exatamente num momento em que as atenções do mundo se voltam para o país, que vê o agronegócio crescer em plena pandemia. Seria uma espécie de cereja do bolo num projeto maior chamado Arco Norte.
Presente na Amazônia há mais de 15 anos, a Bunge, uma das principais empresas de agronegócio e alimentos do Brasil, se propôs a transformar e alavancar o desenvolvimento no norte do país, melhorando a logística de grãos, gerando uma alternativa mais eficiente, econômica e rápida para o escoamento dos grãos brasileiros para o mundo. Hoje, ela embarca entre 2 a 3 milhões de toneladas de grãos por ano no Pará, onde existem outros cinco terminais de uso privado, os chamados TUPs.
Pela nova rota, os grãos das maiores regiões produtoras seguem por caminhão pela BR-163 até a Estação de Transbordo em Miritituba, no Oeste do Pará, percorrendo uma distância de 1.100 quilômetros. No terminal, a carga é colocada em barcaças que irão navegar o rio Tapajós, passam pelo estreito de Breves e chegam ao Terminal Fronteira Norte, em Vila do Conde, Barcarena, um percurso de 1.000 km realizado em aproximadamente três dias. No Terfron, a carga é armazenada para posterior embarque em navios graneleiros, rumo ao exterior.
Pesquisa
Em um artigo ciéntífico denominado “Floating Crane: Porto Sustentável. Uma solução eficiente para o escoamento de grãos pelo Norte do Brasil”, um grupo de pesquisadores paraenses orientados pelo professor Paulo Renato de Sousa, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, submeteu o projeto à Fundação Dom Cabral como requisito parcial para a conclusão do Programa de Especialização em Gestão de Negócios.
Esse estudo acabou mergulhando sobre a viabilidade da empresa Mega Logística implantar um “floating crane” no escoamento de grãos no corredor norte na Amazônia. “O projeto faz a comparação do porto flutuante versus o porto fixo e enaltece suas vantagens, como baixo investimento com alta produtividade, e desvantagens como a impossibilidade de armazenar carga. Além de tratar sobre sua relação limpa com o meio ambiente, pois com sua implantação não agride a natureza e não interfere na vida das comunidades que ficam em seu entorno”, diz o coordenador.
Ainda de acordo com a pesquisa, Eduardo Carvalho, armador e fundador do Grupo Paes Carvalho, viajava pelos Estados Unidos da América, em 1994, quando viu no rio Mississipi uma barcaça com um guindaste de treliça carregando sucata em um navio. Aquilo ficou em seu pensamento, pois era uma solução que poderia ser melhorada e aplicada praticamente em qualquer lugar do mundo, especialmente na Região Amazônica.
Amazônia
Anos mais tarde, em 2008, surgiu a primeira necessidade de uma solução parecida com a vista pelo empresário, uma vez que existia uma fila enorme de navios esperando para carregar no Porto de Vila do Conde, causada pela deficiência do berço de atracação. Pesquisando pelo mundo afora, uma barcaça com um guindaste foi encontrada no porto de Antonina, no Paraná. Assim, em janeiro de 2009, chegou a Vila do Conde o primeiro floating crane(FC), porém foram impostas muitas dificuldades, especialmente pela falta de conhecimento das autoridades, pois era um equipamento nunca antes operado na região, e apenas a análise do licenciamento ambiental perdurou por mais de um ano e, quando foi liberada, coincidiu com a crise do setor siderúrgico, o que inviabilizou a sua operação.
Arco Norte
Os portos que estão localizados acima do paralelo 16º S, consistem no que é chamado de Arco Norte, também engloba os terminais das regiões Norte e Nordeste. A contar de 2015, os portos do Arco Norte representam o segundo maior local de saída de grãos de soja e milho exportados do Brasil para o exterior. Há diversos obstáculos e desafios que devem ser vencidos para impulsionar a área. Mas, de acordo com algumas perspectivas é que o Arco Norte escoe 50% da soja do Estado do Mato Grosso já em 2023. Mesmo com os obstáculos, fica evidenciado que o escoamento de grãos através do Arco Norte não tem volta, e o aumento no volume do escoamento nos próximos anos é um fato.