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BRASIL É DECLARADO LIVRE DA FEBRE AFTOSA SEM VACINAÇÃO E ABRE PORTAS PARA MERCADOS MAIS EXIGENTES, MAS ALERTA SANITÁRIO PERSISTE E EXIGE INVESTIMENTO

O reconhecimento internacional do Brasil como país livre da febre aftosa sem vacinação marca uma conquista histórica para o agronegócio nacional, especialmente para a pecuária. A medida promete impulsionar as exportações de carne bovina para destinos premium como Estados Unidos e Japão. No entanto, especialistas alertam: sem reforço imediato no sistema de defesa sanitária, o avanço pode se transformar em risco. Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará — destaques em rebanho bovino e produção agrícola — enfrentam déficit de fiscais, desvalorização da profissão e infraestrutura, que embora boa, já exige de investimento para sustentar o grande crescimento do agronegócio nessas regiões. Espera-se que a abertura de mercados para a carne brasileira e o advento da gripe aviária sensibilize os governadores a robustecerem seus sistemas de fiscalização sanitária animal.

 

OPORTUNIDADES DE MERCADO

Apesar de ser uma doença que não impacta os seres humanos, a febre aftosa é usada como barreira de entrada em muitos mercados. A abertura desses mercados para carne bovina de países livres de febre aftosa sem vacinação é um diferencial muito importante, pois fortalece a imagem das carnes brasileiras. Países como os Estados Unidos e o Japão, que impõem restrições rigorosas, poderão se tornar destinos viáveis para a carne brasileira.

Outro ponto que merece destaque é que o fim da vacinação tira do pecuarista a obrigatoriedade de duas vezes por ano empreender um verdadeiro esforço de guerra para vacinar todo o rebanho em um curto intervalo de tempo. Tudo custeado pelo próprio pecuarista.

 

DESAFIOS SANITÁRIOS E RISCOS SANITÁRIOS

Entretanto, o fim da vacinação não está isento de desafios. A ameaça de novos surtos de febre aftosa exigirá dos governos estaduais e federal o fortalecimento das medidas de controle sanitário, com aumento no investimento em equipe e sistemas de vigilância epidemiológica. Qualquer falha nesse aspecto poderá resultar em perdas significativas para a cadeia pecuária brasileira.

A necessidade de manter altos padrões de biosseguridade em fazendas e frigoríficos e controle das fronteiras será crucial para evitar a reintrodução da doença no território nacional. Isso implica em custos adicionais e exigências operacionais mais rigorosas para os produtores.

 

INVESTIMENTO EM DEFESA SANITÁRIA

Governo federal e estaduais precisam tomar consciência da necessidade de fortalecimento do sistema de fiscalização sanitária animal e vegetal. O agronegócio brasileiro é responsável por cerca de 25% do PIB (produto interno bruto). Qualquer tropeço gerado pela entrada de algum patógeno pode ser catastrófico para a balança comercial dos estados, que em alguns casos, como o Mato Grosso, supera os 56% do PIB local.

Os últimos concursos para fiscais estaduais sequer repuseram o número de fiscais aposentados, quanto mais reforçaram quanto necessário o quadro de fiscais agropecuários para atender à crescente demanda e desafios sanitários que a defesa sanitária animal e vegetal exigem.

Os últimos concursos realizados no foram:

  • 2024 – MAPA / Brasil – o último concurso para Fiscais Agropecuários do MAPA aconteceu em 2024 e foram anunciadas 200 vagas na época. No entanto, o déficit de fiscais agropecuários federais, segundo a ANFFA Sindical, é atualmente de 1.281 com o agravante que há uma fila de 500 fiscais que deverão se aposentar nos próximos anos. Recentemente o MAPA convocou 100 aprovados no cadastro de reserva, que dado o déficit, ameniza muito pouco a situação.
  • 2024 – ADAGRI / Ceará – 120 fiscais agropecuários convocados e outros 360 aguardando convocação no cadastro de reserva. O concurso tem validade até 2026, podendo ser prorrogado por mais dois anos.
  • 2024 – ADAB / Bahia – 160 fiscais agropecuários convocados e o estado não especificou o número de vagas em cadastro de reserva, tampouco se haverá convocação desses candidatos. O concurso tem validade até 2026, podendo ser prorrogado por mais dois anos.
  • 2024 – IAGRO / Mato Grosso do Sul – 29 fiscais agropecuários convocados imediatamente ao certame e outros 69 aprovados e em cadastro de reserva convocados até 2025. O concurso tem validade até 2026, podendo ser prorrogado por mais dois anos.
  • 2022 – INDEA / Mato Grosso – 111 fiscais agropecuários convocados imediatamente ao certame e outros 35 convocados posteriormente. O governador Mauro Mendes informou que pode ainda convocar cerca de 100 novos fiscais, dentre os quase 300 aprovados e em cadastro de reserva. O concurso teve sua validade estendida até 2026.

 

O MATO GROSSO PAGA O PREÇO DO DESENVOLVIMENTO, O DESTAQUE DO ESTADO NO AGRONEGÓCIO EXIGE AINDA MAIS INVESTIMENTOS EM SEGURANÇA SANITÁRIA ANIMAL E VEGETAL

O Mato Grosso merece destaque, pois tem um dos maiores desafios sanitários do país. Com o maior rebanho bovino do Brasil, cerca de 34 milhões de cabeças, quase o mesmo tamanho do rebanho australiano (35 milhões de cabeças), um dos grandes competidores do Brasil no mercado internacional. O Mato Grosso é ainda o quinto maior produtor de suínos e tem um dos 10 maiores planteis de aves comerciais do país. Sem considerar os 12,1 milhões de hectares cultivados e a produção de 101,5 milhões de toneladas de grãos, considerando a safra 2024/2025. E apesar do recente concurso, o número de convocados não repôs sequer o número de profissionais que se aposentaram nos últimos anos, mas a atenção que o atual governador do estado tem dado a essa questão é digna de nota e espera-se que até o final desse ano o Governador Mauro Mendes faça uma nova convocação dos aprovados e em cadastro de reserva para o INDEA.

 

CELEBRAÇÃO E ATENÇÃO

Aguardemos com atenção e muita expectativa os desdobramentos dessa boa notícia. Esse é um momento de celebração, mas também de um olhar mais atento para nosso sistema de fiscalização de saúde animal Estaduais e Federal para garantir que o fim da vacinação contra a febre aftosa não seja uma granada sem pino deixada no colo do pecuarista brasileiro. O acesso a novos mercados deve vir atrelado a investimentos em marketing da nossa carne, do nosso sistema de produção verde e sustentável e sobretudo: na segurança epidemiológica dos nossos rebanhos.

Esse é o momento de aproveitaremos as oportunidades e apliarmos nossa participação de mercado mas também de reforçarmos nosso sistema de fiscalização Federal e Estaduais. Se subirmos no tamborete pedindo aplausos pelo trabalho desempenhado por pecuaristas, lojistas e fiscais sanitários; nos preocuparmos com fazer fotos para postarmos nas redes sociais, estaremos no mesmo caminho que um certo governador do Paraná tomou, antes mesmo de comer mamona, e que decretou o fim da vacinação contra a febre aftosa com uma canetada. E o final da história todos sabemos, todo o Brasil sofreu com as restrições impostas logo depois que surgiram os primeiros casos.

A maior pecuária do mundo exige o melhor e mais equipado sistema de vigilância sanitária animal do mundo. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos!

 

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