Da Redação
A inclusão socioprodutiva de mulheres que manejam a sociobiodiversidade na região do Beira Amazonas e em Bailique será o tema do seminário previsto para os próximos dias 22 e 23 de fevereiro, em Macapá.
Realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) em parceria com a Universidade do Estado do Amapá (UEAP), o evento marcará o encerramento oficial do Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Agroextrativistas no Amapá. A iniciativa foi realizada por ambas as organizações, em diálogo com outros projetos e ações desenvolvidos por uma rede que inclui a Embrapa Amapá, as Associações das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB), de Moradores e Agricultores Familiares da Comunidade Rio Bacaba (Agrobacaba), da Escola Família Agroecológica do Macacoari (AEFAM) e a cooperativa Amazonbai, entre outras.
A fim de assegurar o protocolo de prevenção à COVID-19, o seminário será restrito a um público de 45 participantes, entre os quais se destacam mulheres extrativistas, lideranças comunitárias e dirigentes de organizações produtivas de base comunitária. Lideranças de organizações mistas, dos movimentos sociais e representantes de organizações públicas do Amapá também foram convidados para o evento.
Agenda
Na terça-feira (22), primeiro dia de programação, será realizada uma mesa sobre o contexto e as formas de acesso a políticas públicas de apoio à inclusão socioprodutiva de mulheres. A agenda incluirá ainda o debate sobre a organização social e a garantia de direitos a mulheres e meninas que vivem nos territórios agroextrativistas.
O dia seguinte (23) será dedicado a rodas de conversa e trabalhos em grupo sobre as formas de melhorar a organização coletiva de três coletivos que atuam a partir do manejo da sociobiodiversidade: a Cozinha Coletiva Beira Amazonas, o Grupo de Mulheres do Limão do Curuá e a Amazonbai.
Formações
O Programa de Formação em Gestão de Empreendimentos Agroextrativistas no Amapá envolveu oito ciclos formativos, realizados de outubro de 2021 a fevereiro deste ano. “Nos encontros formativos, procuramos criar espaços de diálogos sobre temas como gênero, trabalho, auto-organização, sustentabilidade, autonomia econômica e agroecologia, a partir da realidade vivenciadas pelo grupo de mulheres e melhorar o acesso delas às informações”, revela Waldiléia Rendeiro, analista socioambiental do IEB e coordenadora do Programa de Formação.
Junto com os módulos, o programa incentivou o diálogo entre mulheres que atuam em diferentes territórios na Amazônia.“A interação com outras experiências protagonizadas por mulheres do Amapá e de outros estados permitem trocar conhecimento sobre processos de gestão, governança e mercados e, sobretudo, tem promovido reflexões sobre a desconstrução dos papeis socialmente atribuídos às mulheres e a importância do trabalho coletivo”, aponta Waldiléia.
“Os cursos de formação trouxeram muito aprendizado. As mulheres ribeirinhas se tornaram mulheres empoderadas. Aprendemos a fazer várias iguarias e também aprendemos como funciona uma organização, como devemos vender os nossos produtos no mercado por um preço justo”, avalia Deurizete Cardoso, da Coordenação da Cozinha Coletiva do Beira Amazonas, localizada no município de Itaubal. A Cozinha conta com o envolvimento de mulheres de seis comunidades e foi construída com a colaboração do IEB, a fim de beneficiar a produção agroextrativista com base na culinária local.
Os conteúdos ministrados pelo Programa de Formação também envolveram temas como organização social; mercados; associativismo, cooperativismo e economia solidária; identidade visual; missão de négocios coletivos; produção de conteúdo digital e educação financeira no contexto do trabalho em cadeias de produtos da sociobiodiversidade. “Aprendemos (nesses cursos) a fazer tabelas, como dividir o preço de cada produto, quanto a gente gasta com cada um para não perder lá na frente. Então eu acho que esse curso de formação está abrindo um leque na mente de várias pessoas. Uma organização envolve organizar e saber administrá-la, saber como tudo realmente funciona”, frisa Deurizete.
Histórico
As atividades do IEB no Amapá foram iniciadas em 2014, a partir da implantação de uma agenda socioambiental com as associações das Escolas Famílias do Amapá. Essas ações foram ampliadas com projetos de fortalecimento de cadeias de valor, com o objetivo de conectar economias comunitárias ao tema da educação. Alguns anos depois, a agenda de trabalho foi orientada ao trabalho com mulheres e jovens, buscando aumentar a visibilidade em relação ao protagonismo exercido por esses grupos nas economias locais.
Um exemplo dessas parcerias é a interação com o Grupo de Mulheres do Limão do Curuá, iniciada em 2020, após diálogos com pesquisadoras da Embrapa Amapá, que apoiam a comunidade na adoção de boas práticas de extração e produção do óleo do pracaxi.
Ana Cláudia Lira Guedes, pesquisadora da Embrapa Amapá, conta que a aproximação com esse Grupo de Mulheres iniciou quase no final de 2018. “O processo de extração do óleo do pracaxi pelas mulheres do Curuá tem algumas peculiaridades: as sementes não são cozidas, mas trituradas e o escorrimento do óleo se dá por meio de prensagem, a partir de uma prensa construída pela própria comunidade”, relata a pesquisadora. “Mas aí verificamos que, embora o processo delas demandasse menos tempo e por isso apresentasse maior capacidade de produção, havia algumas etapas que ainda necessitavam de cuidados.”
Essas melhorias envolviam a aquisição de material e equipamentos adequados ao manuseio, extração e envasamento do óleo nas diferentes etapas de produção. Outra necessidade era a formação em processos de gestão de negócios e de organização social. “Uma coisa que a gente constatou a partir das nossas atividades é que essas mulheres são muito inovadoras. Se elas veem que há uma coisa que dá para inovar e facilitar a vida delas, elas vão lá e fazem”, afirma Ana Cláudia.
A partir de diferentes projetos elaborados pelo próprio grupo de mulheres, essas questões passaram a ser resolvidas, com o apoio de organizações como o IEB e a Embrapa, entre outras.
Duas soluções encontradas em conjunto foram a aquisição de recipientes em aço inoxidável e a criação de uma prensa mais adequada à extração do óleo do pracaxi. Embalagens para a melhor apresentação e conservação do produto também foram adquiridas pela comunidade a partir dessa articulação. “Os cursos que nos ofereceram foram muito bons. São novos conhecimentos que já estão nos ajudando e fortalecendo o nosso trabalho. O IEB também nos apoiou na aquisição de materiais, que vão nos ajudar a melhorar ainda mais a qualidade do nosso óleo nessa safra de 2022 e nas safras futuras”, enfatiza Maria Natali Correa, uma das representantes do Grupo de Mulheres do Limão do Curuá.