Da Redação
A agroecologia e os elementos que gravitam em torno de sua complexidade propõem um modelo de desenvolvimento territorial baseado na organização camponesa para produção de alimentos, com base na policultura e na valorização da diversidade das paisagens, dos ecossistemas e das espécies como modo de valorização da vida. A partir de sua vasta experiência e de seus conhecimentos acumulados numa trajetória que se realizou nos diversos continentes do planeta, os pesquisadores Peter M. Rosset e Miguel A. Altieri defendem a agroecologia como um paradigma oposto à produção agrícola resultante da “revolução verde” em Agroecologia: Ciência e política, coedição da Editora Unesp, Expressão Popular e Editora da UFRGS.
“As verdadeiras raízes da agroecologia estão na lógica ecológica da agricultura indígena e camponesa ainda prevalecente em muitas partes do mundo em desenvolvimento”, anotam os autores. “Para agroecologistas, um ponto de partida no desenvolvimento de novos sistemas agrícolas é o próprio sistema que os agricultores tradicionais desenvolveram e/ou herdaram ao longo de séculos. Tais sistemas agrícolas complexos, adaptados às condições locais, ajudaram os pequenos agricultores a gerenciar ambientes hostis e atender às suas necessidades de subsistência sem depender da mecanização, de fertilizantes químicos, de pesticidas ou de outras tecnologias da ciência agrícola moderna.”
O livro divide-se em cinco eixos. Os pesquisadores discutem os princípios, as histórias e as correntes do pensamento agroecológico, apresentam evidências favoráveis à agroecologia, bem como seu aumento de escala e a política que norteia o conceito. Tudo isso em uma linguagem clara e objetiva.
Para Davis Gruber Sansolo, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe (TerritoriAL), que assina as orelhas do livro, os autores demonstram a complexidade como um paradigma da área, tendo em vista as diversas dimensões que envolvem o termo “agroecologia”.
“Partindo de uma perspectiva histórica, desenrola-se uma série de argumentos, bem fundamentados, que indicam as vantagens da agroecologia na produção de alimentos em comparação com outras formas de produção, em especial as monoculturas, mas também a produção orgânica em larga escala. Por conseguinte, a produção orgânica é exposta como uma apropriação do modelo capitalista de produção agrícola, resultante da crítica efetuada sobre a revolução verde”, pontua. “Trata-se, enfim, de um livro que põe em xeque todo um sistema agroalimentar e, por consequência, um modelo de desenvolvimento territorial capitalista globalizado.”
Sobre os autores
Peter M. Rosset é professor de Agroecologia em El Colegio de la Frontera Sur (ECOSOR), no México. É também professor do Programa de Pos-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial na América Latina e Caribe (TerritoriAL) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ambos no Brasil, e pesquisador visitante do Instituto de Pesquisa Social (Cusri) da Universidade de Chulalongkorn na Tailândia.
Miguel A. Altieri é professor emérito de Agroecologia do Departamento de Ciência Ambiental, Política e Administração, da Universidade de Califórnia, em Berkeley, co-diretor do Centro Latinoamericano de Investigaciones Agroecologicas (Celia) e agricultor da lavoura agroecológica Ines em Alma Mia, Antioquia, Colômbia. Ele foi presidente fundador da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia (Socla).