A expansão do comércio regional entre estados brasileiros e países vizinhos é crucial para o fortalecimento econômico e social das regiões de fronteira. Nesse contexto, a comercialização de carnes bovina e bubalina entre o estado do Amapá e a Guiana Francesa destaca-se como uma oportunidade estratégica para ambas as partes.
O estado do Amapá possui o segundo maior rebanho bubalino do país com 316.330 animais e 49.195 bovinos, tanto de corte como de leite. A média mensal de abates do estado é de 7.479 cabeças, que atendem o mercado interno, segundo a Diagro. Além disso, o Amapá é um potencial fornecedor de produtos para a região por estar localizado no extremo norte do Brasil e possuir uma posição geográfica privilegiada, compartilhando uma fronteira terrestre e fluvial com a Guiana Francesa, território ultramarino da França. Essa proximidade facilita o comércio transfronteiriço, especialmente de produtos agropecuários. As carnes bovina e bubalina são alguns dos principais produtos do setor agropecuário brasileiro, representam um item de alto valor agregado que pode atender às demandas do mercado francês na região.
A Guiana Francesa possui uma população de aproximadamente 300 mil habitantes que depende fortemente da importação de alimentos, inclusive de proteína animal como carnes bovina e bubalina. As restrições geográficas e climáticas tornam a produção local limitada, criando uma dependência de fornecedores externos e o Amapá, por sua vez, tem todos os atributos para se tornar o fornecedor mais competitivo para a Guiana Francesa, especialmente devido à proximidade e à possibilidade de atender aos padrões sanitários exigidos pela União Europeia.
Investir em plantas de corte e frigoríficos, certificações sanitárias e em infraestrutura de transporte e armazenamento pode posicionar o Amapá como um parceiro comercial estratégico, reduzindo custos logísticos e garantindo a entrega de produtos frescos e de qualidade, com preço mais acessível na região.
A exportação de carne para a Guiana Francesa traz uma série de benefícios econômicos para o Amapá, como a geração de empregos pela demanda crescente por carnes bovina e bubalina, que pode estimular a criação de novas vagas de trabalho em várias etapas da cadeia produtiva, desde a pecuária até a logística e comercialização.
Entrar no mercado guianense pode proporcionar a diversificação das fontes de receita do estado, fortalecendo a economia local, além de levar a um olhar mais focado à necessidade de impulsionar investimentos em infraestrutura, beneficiando outros setores produtivos, e atender aos padrões internacionais no estabelecimento do comércio regular Brasil-França, consequentemente, ampliando oportunidades de cooperação para outros países.
Apesar do grande potencial, há desafios a serem superados tanto pelo setor público quanto pelo setor privado, a exemplo de investimentos em sanidade animal, rastreabilidade e conformidade com os padrões da União Europeia são fundamentais. Inclusive, é necessário desenvolver uma logística eficiente e competitiva que conecte os produtores locais aos mercados internacionais.
As perspectivas, no entanto, são promissoras e sua consolidação se torna viável através do planejamento estratégico e colaboração entre setores público e privado, para que o Amapá possa se consolidar como um importante player no mercado regional de carnes bovina e bubalina.
A abertura na comercialização de carne entre o Amapá e a Guiana Francesa representa acima de tudo uma oportunidade para o desenvolvimento econômico e social da região de fronteira. Mas carece ainda de muito do trabalho dos governos em suas diversas esferas e, sobretudo, da tecnificação necessária por parte do produtor visando o alcance de mercados exigentes com produtos de alta qualidade.
É fundamental que o Estado brasileiro passe a olhar os estados do Norte como fornecedores chave para os países vizinhos que, muitas vezes, por falta de acordos bilaterais importam produtos de outros continentes em detrimento aos estados brasileiros vizinhos. Destaca-se o crescimento da Guiana e Guiana Francesa, países membros da CARICOM, bloco de cooperação econômica e política que reúne países do Caribe, e que dependem de importações para o abastecimento de suas populações.
A região Amazônica deve ser considerada não somente como um museu ambiental do mundo, mas também um potencial produtor de alimentos para a população local e países vizinhos, com crescimento, tecnologia e sustentabilidade.