Marcus Rezende, colunista
Todo ano a história se repete; começam as chuvas e algumas áreas de pastagens, principalmente brachiarias, não se desenvolvem. O produtor vê as plantas daninhas crescerem, as árvores trocarem o amarelo pardo pelo verde intenso, mas alguns pastos continuam sem vigor e com manchas amareladas. Um cenário desesperador que muitos produtores encaram, mas que pode ser facilmente resolvido com o mínimo de atenção para as pastagens já nas primeiras chuvas.
Esse cenário é comum em muitas áreas de pastagens brasileiras, e em geral, quando o produtor observa a revoada das cigarrinhas, o problema já está instalado de tal forma, que as perdas podem ser percebidas aos olhos do produtor. O desespero aumenta quando insetos são observados voando sobre a pastagem e ao abrir as moitas de capim, o produtor nota as pequenas poças de espuma, característico da presença das cigarrinhas nas pastagens. É o indicativo que as cigarrinhas chegaram com toda força, provenientes dos ovos que ficaram diapausa no período da seca, emergem já nas primeiras chuvas, quando a umidade do solo aumenta e o ambiente fica favorável para a eclosão dos ovos e consequentemente a multiplicação dos insetos.
Se engana quem pensa que as cigarrinhas atacam somente as Brachiaria decumbens, B. ruziziensis e B. brizantha. Já foram observados ataques de cigarrinhas em culturas de Brachiaria humidicula, Panicun, e Napier.
As cigarrinhas observadas nas revoadas são as adultas, que ficam na parte aérea das plantas. As ninfas (cigarrinhas jovens) são abrigadas na base do capim, envoltas em uma espuma que mantem o ambiente úmido e protegido. Os ovos são colocados no solo e durante o período de estiagem permanecem inativos, quando ocorrem as primeiras chuvas e o capim começa a rebrotar, eles eclodem e dão sequência ao ciclo da praga. Assim como os carrapatos, as cigarrinhas também têm gerações, três ou mais gerações, e a observação na eclosão de cada um desses ciclos é crucial para o combate e controle dessa praga especialmente a primeira geração, momento mais apropriado para combate-las.
O pecuarista deve ficar atento aos primeiros sinais de presença das cigarrinhas em suas pastagens, devendo iniciar o tratamento químico e se necessário, posteriormente o tratamento biológico. O importante é não deixar para controlar somente quando observar o descontrole populacional (“nuvens” de insetos e, ou pastagem secando). Uma ou outra cigarrinha ainda pode ser tolerada, no entanto, jamais esperar pelas revoadas ou o amarelamento do capim para iniciar o combate, pois quando o amarelecimento é plenamente visível, já decorreram de duas a três semanas que a pastagem vem sendo ataca por insetos adultos, acrescentando ainda que a presença de 25 cigarrinhas por metro quadrado, chega a causar redução de 30% da massa de forragem da área.
Segundo as previsões climáticas, para os próximos meses poderemos ter a antecipação das chuvas em toda a região norte e parte do centro-oeste do país, e com as chuvas, as cigarrinhas também poderão antecipar seu aparecimento.
O produtor deve se antecipar e manter na sua propriedade um volume mínimo de produtos químicos para o combate emergencial dessa praga. O tempo de buscar o produto na cidade e voltar para aplicar, pode comprometer grandes áreas de pastagem, e em um ano em que a falta de produtos químicos se tornou comum, melhor prevenir que chorar o leite derramado. Porque se falta produto, não vai ter como remediar.
Além da cigarrinha, o produtor também deve ficar atendo para as lagartas, que segundo especialistas, poderão surgir com bastante intensidade também nesse primeiro período de chuvas, com o rebrote do capim.
Reginaldo Souza
Reginaldo Souza é Engenheiro Agrônomo com Mestrado em Economia Rural, com mais de 20 anos de contribuição na pesquisa em formação de pastagens e combate plantas daninhas que afetam as pastagens tropicais, Reginaldo tem atuado em todo o Brasil como Gerente de Desenvolvimento de Mercado de Pastagens na Sumitomo Chemical.
O colunista
(*) Marcus Rezende é gerente de Trade Marketing Pastagens na Sumitomo Chemical. Médico Veterinário com Mestrado em Ciência Animal, MBA em Marketing e habilitação em Coaching, é reconhecido por importantes contribuições nas áreas comercial, técnica e de marketing de saúde, produção e bem-estar animal nos mercados do Brasil, América Latina e África. Colunista do Canal Terra Viva, Marcus também apresentador do Agroconnection e colunista aqui no Portal do Agro.